Acordar em Paris é diferente. É sentir-se na sétima maravilha do mundo. Colocar os pés na rua e deixar-se misturar às pessoas.
Descer na estação de metrô que a princípio pode parecer complicada com a profusão de linhas que se interceptam (14 ao total) e descobrir como é fascinante usufruir de um sistema de transporte ágil e seguro.
A integração dos sistemas rodo-ferroviário, alem de baratear, torna a locomoção muito mais fluida para o usuário.
A França ainda é um dos poucos países desenvolvidos que, a despeito das últimas incongruências do Governo Sarkozy, conseguiu preservar os benefícios sociais do Well-faire-State (o famoso Estado de Bem-Estar Social).
Por aqui, por exemplo, é garantido aos estudantes secundaristas a gratuidade no uso do sistema público de transporte (sem limite diário, ao contrário do nosso caríssimo Salvador Card).
Não queremos aqui destilar ingenuidades, obviamente. A França, como qualquer lugar do mundo também tem problemas.
Por exemplo, nos chamou atenção a quantidade de mendigos (na perspectiva francesa, claro) que dormiam nos pontos mais recônditos do Aeroporto Internacional Charles De Gaule, mesmo com a ronda policial a afugentá-los. Nas Estações de Metrô, a noite, lá estavam eles, nas suas "camas" de papelão e farrapos típicos.
Mas essa não é a questão central. O ponto crucial são as assimetrias, quando inevitavelmente, estabelecemos paralelismos. As desigualdades em países subdesenvolvidos, como em nossa "pátria mãe gentil", são muito mais profundas e perversas.
Por isso, um sistema de transporte que garanta aos seus usuários o mínimo de conforto, segurança e agilidade é fundamental para o exercício pleno da cidadania, já que ainda estamos no que o Geógrafo brasileiro, Milton Santos, chama de ensaio para cidadania. "Não há cidadãos neste país. Nós a Classe Média não queremos direitos, queremos privilégios. Os pobres não têm direitos, não há pois, cidadãos neste país, nunca houve" (SANTOS, 2000).
Um pouco de amenidades
Desta vez, como era um retorno tanto meu como de Flavinho, fizemos uma Paris diferente, mais calma, sem pressa, nem sofreguidão. Não tínhamos a obrigação de dar conta do roteiro frenético, típico das agências de viagem. Optamos então por viver Paris, saboreá-la lentamente, suas ruas, esquinas, pontes, praças, monumentos, seus cheiros, os seus viventes.
Começamos pelo famoso e ainda deslumbrante, Hotel de Ville (lembrei de imagens tenras da minha infância diante do carrossel em frente).
Foto 2: Hotel De Ville. F&MP, 21/01/2011. |
Foto 3: Carrossel em frente ao Hotel De Ville. |
Seguimos para a Catedral de Notre Dame (inaugurada em 1345, foi palco de acontecimentos importantes, a exemplo da
coroação do monarca inglês Henrique VI (filho do rei Henrique V, como rei da França em 1431), o casamento de Maria I da Escócia ( decapitada pelos ingleses por traição) e a beatificação de Joana D’Arc, em 1909.
Entramos e fomos absorvendo aquela atmosfera de energia, fé e história. Quantos pedidos não trariam suas velas, quanta oratória nos diversos cantos, e em seus bancos? Fiquei a pensar na quantidade inestimável de sonhos, segredos, confissões, dramas e graças guardam as pedras e os vitrais da Catedral. Simplesmente, fascinante!
Sentamos em frente à nave principal e nos deixamos ficar, conversando baixinho coisas que só nós dois poderemos guardar, momento inesquecível e mágico. E os muitos minutos que se passaram ficarão para sempre na memória dos sentidos.
Saímos da Notre Dame e fomos passear ao longo do Rio Sena, passando pela Ilha Cité e Saint Louis, observando os prédios e as varandas, o privilégio de morar nestas Ilhas, as pessoas que saiam de suas portas, o doce deslizar dos barcos nas águas mansas, junto com o escurecer.
Ver as luzes da cidade encantada acendendo e perceber uma tênue neblina nas ruas. Diante do frio inclemente, daqueles que doem as juntas, adormecem os dedos e varam a espinha da gente, paramos em um café para um bom chocolate, quentinho da hora.
Quase uma muçulmana (risos...) |
Perguntei pela "marvada", mas só tinha chocolate (até parece!) |
Dobramos uma esquina a procura de uma estação de metrô e “voilà” descobrimos a Rue de Le Huchette. Uma rua tipicamente boêmia, com vários restaurantes gregos, indianos, casas de jazz, blues, shows, uma festa.
É aqui que fica a famosa casa de jazz Caveau de Le Huchette. Optamos por jantar em um restaurante grego, o único sem estardalhaços com direito a quebra de prato na entrada e abordagens acintosas dos transeuntes.
Bom, o jantar nada tão especial, diria mesmo que comum, visto que meu prato se tratava de uma sobrecoxa de frango com fritas e o de Flavinho, um espetinho, que segundo ele, já comeu melhores numa tal "Combe do Reggae" no antigo estacionamento do Estádio Fonte Nova em Salvador-BA, antes do clássico BA-VI (risos...).
Para não dizer que não falamos de flores, salvou-se a sobremesa, um delicioso doce grego (um folhado de torta de maçã). A farra franco-balcânica saiu por um total de 32 euros.
Torre Eiffel: um elogio à Revolução.
Em 1889 a França inaugurou o mais famoso dos seus monumentos, superando o já consagrado Arco do Triunfo, um tipo de vitupério de Napoleão Bonaparte. Projetada pelo engenheiro Gustave Eiffel, a Torre deveria simbolizar o desenvolvimento tecnológico no descortinar do século XX e ser uma espécie de marco para o centenário da Revolução Francesa.
Paris acordara especialmente fria naquela manhã do dia 22 de janeiro, com temperatura de 5 graus positivos, somado ao vento que varria a planície do Rio Sena, a sensação térmica era apavorante, isso sem falar da chuva. Diante de tais condições atmosféricas, o que Paulinha sugeriu sem titubear? Subir a Torre Eiffel, claro! Ainda bem que o terraço fica interditado nesta época do ano, só reabre no dia 5 de fevereiro (parafraseando meu amigo Thyers Filho: "que energia!")
Que bela moldura La belle de Jour ganhou. |
Nem com o céu em prantos, és linda e ponto. |
Estupenda! |
No frio, juntinho é bem melhor! |
Aguardamos, por mais de 1 hora, visitando o museu da torre, e então, um segundo recepcionista “bem-educado”, com o sorriso dos cínicos no rosto, disse-nos que "infelizmente" não poderíamos almoçar porque houve uma outra reserva e o restaurante estaria mais uma vez fechado para receber um grupo, e não poderia fazer nada diante da informação equivocada do seu colega. Para fechar com chave de ouro, disse-nos em bom francês: excusez-moi, s'il vous plaît!
O "chiquerésimo" Restaurante da Torre Eiffel. Passe bien! |
Paulinha adornada pelo Arco do Triunfo. |
Charme, glamour e tentações consumistas
A famosa Avenida Champs-Elysées é um corredor sem fim de ode ao consumo. As grandes grifes do mundo fashion estão dispostas ao longo dos seus quase 2km de extensão. O boulevard estava apinhado de gente do mundo inteiro, uma Babel de línguas, sotaques e fisionomias.
Janeiro é o período das liquidações em toda Paris, mas não se engane não. Grandes Marcas como a Louis Vuitton, Prada, Gucci e Chanel não se submetem ao plano terráqueo (risos...) e preferem se relacionar, apenas, com os escolhidos do "Olimpo". Meus amigos/as, é de fato um outro mundo!LOUVRE, LOUVRE, LOUVRE!!!
Nada como um jogo de cena. Não é que minha pequenina virou uma gigante? |
Terceiro dia, ida ao Louvre, claro! E lá, nova perda da noção de tempo e espaço. O Louvre por si só, com seu prédio repleto de detalhes de arquitetura, pintura e história, já se faz a melhor atração. Percebendo isso, parávamos para admirar os tetos de seus salões, suas escadarias, independentemente de seus objetos de arte e pinturas.
"Braços da Vênus de Milo acenando tchau" (Zeca Baleiro) |
Não teve jeito, ela não parou de me olhar. |
Escada de acesso ao andar das peças da Antiguidade grega. |
Nos deliciamos com as esculturas gregas, as pinturas francesas, as italianas...e com ela, a Monalisa e seu sorriso enigmático. O Louvre uma parcela significativa da memória das Civilizações, por isso mesmo, merece um dia inteirinho dedicado a ele e, ainda assim, muito provavelmente, o visitante não esgotará seus corredores e salas fascinantes.
Ao final da tarde saímos para passear pela área externa do Louvre, e resolvemos pegar um ônibus em direção à Montmartre, assim veríamos a cidade por cima, já que só andávamos de metro.
E fomos até o bairro, soltamos, jantamos no café Luna, tiramos foto no lendário Moullin Rouge e retornamos ao Hotel.
Depois de matarmos a fome de arte, alimentar o corpo era preciso. |
Uma sobremesa francesa típica e irresistível: profiteroles com sorvete, chantilly e calda de chocolate. Bis! |
Após um brevíssimo descanso no Hotel retornamos à boêmia Rue De Le Huchette para assistirmos ao tradicional show de jazz na Casa homônima. Embora estivéssemos exaustos, valeu muito à pena ter ido a essa tradicional casa de jazz de Paris. Assistimos ao show do pianista estadunidense, Ricky Nye.
O Caveau De La Huchette funciona há 60 no mesmo local. Trata-se de uma caverna no sentido literal da palavra, com uma pista de dança concorridíssima, onde seus costumeiros e visitantes de passagem como nós, remexem o esqueleto ao som do melhor blues. Quando for a Paris, vale muito à pena conferir.
O Caveau De La Huchette funciona há 60 no mesmo local. Trata-se de uma caverna no sentido literal da palavra, com uma pista de dança concorridíssima, onde seus costumeiros e visitantes de passagem como nós, remexem o esqueleto ao som do melhor blues. Quando for a Paris, vale muito à pena conferir.
Quarto e último dia snif snif snif...que saudades do que não vimos. Melhor assim, temos que voltar a Paris para completar o nosso passeio. Não pudemos ir ao Palais de Versalles, porque não abre na segunda-feira, ficamos então passenado pela cidade, por suas ruas, vendo os monumentos, as praças e fomos almoçar no Kong, um restaurante in, do momento, com design super sofisticado. Lindíssimo!
Localiza-se no topo do prédio da Kenzo e e o teto é de vidro, o que faz com que se tenha uma vista paranômica da Rue Du Pont Neuf, com vista para o Rio Sena. Bem, o almoço ficou um pouco salgado, mas valeu a pena pelo momento, pelo lugar.
Demos mais uma volta despedindo-se de Paris, vou chorar mesmo, voltamos para o Hotel, onde tínhamos deixado as malas guardadas, já que a diária se encerrou às 12:00h, e pegamos um taxi para a estação Paris Bercy, onde tomamos um trem para Veneza. Aguardem cenas dos próximos capítulos!
Êta, até deu saudade das nossas andanças...
ResponderExcluirParis, Paris... E que retratos tão lindos! Sou faltou o som do violão com a voz do cantor Flavinho...
Mas Veneza ... Bom, vamos aguardar os novos relatos.
Bjos
Pô Flávio, fiz praticamente o mesmo roteiro de vocês no dia 21! Digo, conheci a Catedral de Notre Dame e o Hotel de Ville, mas cheguei lá já de noite porque fui em Montmartre primeiro. Dava até pra ter me esbarrado heuaheauhe.
ResponderExcluirEu tava acompanhando o blog, mas não imaginei que de Praga vocês iriam até Paris. Pois aproveitem a Europa e vão contando aqui, sou leitor assíduo de blogs de viagens!!
Abraço,
George (aluno do ISBA láaa em 2005)
Paris...que saudade! 13 anos se passaram ...e viajança me fez entrar no túnel do tempo,revivendo um roteiro similar.
ResponderExcluirMuito gostoso de ler e viajar no imaginário.
Feliz estou diante de tanta felicidade.
saudades,amo vocês.
Beijos